quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Remédios para emagrecer: entre o direito de uso e o cuidado com o abuso


“A moderação contém todas as virtudes”, já dizia Cícero, famoso filósofo da Roma antiga. Do que venho acompanhando sobre a decisão da Anvisa em proibir três remédios inibidores de apetite à base de anfetamina e de restringir a venda dos derivados de sibutramina, me parece que moderação é algo que está – ou deveria – no cerne da questão. O raciocínio da Anvisa é simples: os riscos destes remédios não compensam os benefícios. A perda de peso dos pacientes, de acordo com o órgão, é moderada e acaba com a interrupção da medicação. Já os efeitos colaterais são potencialmente graves: problemas cardiovasculares, principalmente infarto e derrame.
No outro lado da questão estão médicos que defendem o uso destas medicações como recurso eficaz para combater a obesidade e seus males. Na sua visão, o benefício é compensador e a decisão da Anvisa interfere no poder de decisão do médico sobre o tratamento do seu paciente, restringindo a sua autonomia. Esta visão não está totalmente errada. Mas não é papel da Anvisa fazer esta interferência quando julgar necessário em prol da saúde pública?
O Brasil, sozinho, consome 55% de toda a sibutramina produzida em todo o mundo.
A título de comparação, enquanto o Brasil consumiu 5 toneladas da substância em 2009, os Estados Unidos – com todo o seu histórico de obesidade na população – consumiu apenas 170kg.
Está havendo uso indiscriminado de inibidores de apetite pelos médicos brasileiros. Uma coisa é uso; outra, abuso. Daí a importância de lembrar da moderação como mãe de todas as virtudes.
Não é de hoje que se busca a saída mais fácil para lidar com problemas de saúde. Ao invés de buscar um estilo de vida saudável, o paciente acha mais prático tomar uma pílula e ter um benefício a curto prazo, a despeito dos riscos a longo prazo. Para o médico isso também é mais conveniente: é fácil mandar um paciente tomar um remédio. Difícil é convencê-lo a comer melhor e frequentar uma academia.
É claro que há casos em que a medicação se faz necessária, assim como medidas mais drásticas, entre elas a cirurgia de redução do estômago. Mas quando os últimos recursos passam a se tornar o tratamento padrão temos um problema. E, se há este problema, não podemos reclamar se a Anvisa toma uma atitude para solucioná-lo.



Para saber mais


Fonte: Revista Entremundos



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